Sensibilidade ao glúten não-celíaca – e mais
“Mas eu investiguei doença celíaca e não acusou nada. Posso continuar comendo glúten todos os dias?” Bom, nem só de doença celíaca vive glúten, então a resposta é: depende! Já ouvistes falar em sensibilidade ao glúten não-celíaca (SGNC)?☝
O glúten é um GRUPO de proteínas chamadas PROLAMINAS, especificamente a GLIADINA e a GLUTENINA. Na Doença Celíaca temos fatores imunológicos e genéticos (HLA-DQ2 e HLA-DQ8) envolvidos, com sérios danos às células epiteliais intestinais e às chamadas tight junctions, provocando infiltração linfocitária, hiperplasia da cripta (aumento na profundidade da cripta sem a redução da altura desta vilosidade) e, mais adiante, atrofia destas vilosidades intestinais.
Já a SGNC é uma síndrome caracterizada por sintomas gastrointestinais e, muito importante ressaltar, extra-gastrointestinais também, relacionados ao consumo de glúten. Dentre os sintomas temos:
- Dor abdominal
- Distensão abdominal
- Movimentos intestinais (peristaltismo) irregulares
- Fadiga intensa
- Dores articulares
- Dor de cabeça
- Alterações cognitivas, como dificuldade de concentração e perda de memória
E qual o mecanismo que envolve a SGNC? Bom, isso ainda não está bem elucidado; algumas pesquisas apontam que há sim uma resposta imune inata ao consumo de glúten, mas não foram identificadas pré-disposições genéticas. Ocorre um aumento de linfócitos T-CD3 intraepiteliais, aumento de interferon gama em resposta ao consumo de gluten e sinais de resposta imune adaptativa. Avaliando algumas biópsias de duodeno de pacientes com SGNC e pacientes com doença celíaca sem tratamento, foram observadas aumento de permeabilidade intestinal em ambos os grupos – como se o epitélio do seu intestino, que era para ter uma permeabilidade seletiva, fica como uma malha de roupa que esgaçou. Só isso já corrobora para uma SÉRIE de alterações no nosso organismo Também observaram que estes pacientes com SGNC apresentam mais anemias, perda de peso e osteoporose, além de doenças auto-imunes e atópicas (como rinusinusite alérgica, asma e dermatite atópica), o que faz alguns pesquisadores cogitarem a possibilidade da SGNC ser, na verdade, um diagnóstico precoce de doença celíaca. Será? Bom, daqui um tempo volto pra contar
⚕️O diagnóstico da SGNC é baseado na clínica: paciente apresenta todas as queixas, mas não tem a doença celíaca nem alergia ao trigo demonstrada nos exames. Ou seja: se a tua investigação para doença celíaca teve um resultado NEGATIVO, isso não quer dizer que tu podes consumir glúten com frequência que está tudo ótimo. Existe um caminho do meio cheio de curvas.
✋É importante lembrar também que existe uma diferença entre sensibilidade ao GLÚTEN e sensibilidade ao TRIGO. Glúten é um dos componentes do trigo, mas nem só glúten é a causa de tuas queixas ao consumir o trigo; há pesquisas que apontam que muitas das pessoas que são diagnosticadas com SGNC, na verdade, são intolerantes aos frutanos do trigo, do centeio e da cevada, que são carboidratos fermentáveis destes alimentos (falei disso algumas postagens atrás), como no caso de pessoas com síndrome do intestino irritável (SII).
✨ Também existem, no trigo, os inibidores de amilase-tripsina, uma família de proteínas que podem não ser reconhecidas no organismo de muitas pessoas, gerando uma resposta imunológica.
✨ Há os que sofrem pela contaminação excessiva de micotoxinas que o trigo possui – especialmente no Brasil.
A partir disso, alguns pesquisadores propuseram o termo Sensibilidade ao Trigo não-celíaca (STNC), já que o problema, para alguns, pode não ser apenas o glúten do trigo – ou nem envolver ele
Escute os sinais que teu corpo envia. Nem tudo depende exclusivamente de exames (ainda que eles sejam super importantes), a clínica é soberana e o teu corpo fala contigo o tempo inteiro. Preste atenção nele sempre que der – e procure um nutricionista pra te ajudar nessa caminhada
Com carinho,
Letícia.