Você sente desconforto quando consome fontes alimentares de glúten, foi ao gastroenterologista, fez exames de sangue, fez biópsia de duodeno e… nada.
“Ah, então tá tudo certo. Pode comer glúten à vontade.”
Não não!
O seu corpo é a sua melhor e mais importante ferramenta. Ele te dá sinais o tempo inteiro – e, claro, a maioria de nós não foi ensinado a escutá-los. Tá todo mundo perdoado.
Mas se você repetidas vezes consome um alimento e ele te provoca inúmeros sintomas, algo está errado. No caso específico do glúten, que peguei como exemplo, estes exames vão te dizer se você tem doença celíaca e ponto final. Algumas especificidades da biópsia do duodeno, se avaliada por um ótimo profissional gastroenterologista, pode até predizer uma intolerância à glúten elevada. E é apenas nesta condição que o consumo de glúten, especialmente o TRIGO, provoca sintomas? Não. Aliás, existem muitas prolaminas do trigo que NÃO SÃO avaliadas nos exames do Brasil – gliadina, com certeza, não é a única delas.
➡️ E os sintomas são sempre gastrointestinais?
Não.
Existem muitos sintomas que envolvem alergias e hipersensibilidades alimentares – inclusive neurológicos.
➡️ E desde quando o glúten é o único problema do trigo?
E se for uma reação ao excesso de ácaros ou de aflatoxinas presentes no trigo do Brasil? E se for ao glifosato amplamente utilizado na agricultura no Brasil? E se for aos melhoradores de farinha? E se for ao sulfato ferroso presente em todas as farinhas de trigo no Brasil, por política pública, que em muitas pessoas induz disbiose intestinal e causa sintomas?
Um alimento, hoje, para ser avaliado, precisa ter todo o seu CONTEXTO incluído, não apenas ele. Se o seu corpo diz que não, evite o contato. Procure um nutricionista para avaliar se isto pode ser corrigido com outras condutas, como melhora de digestão, uso de probióticos, reposição de vitamina A, ou se é uma característica do seu organismo.
Na saúde, nada é preto no branco. E isso não é terrorismo nutricional não. Isso é dar voz às muitas pessoas que sentem desconforto quando comem glúten, fazem os tradicionais exames, e acham que tem algo de errado com o corpo delas. Isso sim que é terrorismo, porque faz estas pessoas se sentirem fora da caixinha dos diagnósticos.
Moral da história: os exames diagnósticos são um imenso avanço na medicina e possuem muita importância SIM, mas não devem ser a ÚNICA forma de se basear uma conduta em situação de intolerância alimentar – veja bem que estamos falando de uma situação específica, e não de qualquer patologia.
Certo?