Sobre microbiota intestinal tu já deves ter ouvido falar. Mas e sobre disbiose uterina?
Existe um tipo específico de endometrite (inflamação do endométrio) que é a CRÔNICA, que não necessariamente apresenta sintomas e é pouco diagnosticada; alguns estudos demonstram que essa inflamação pode ser em decorrência de – adivinha? – disbiose do endométrio. A endometrite está associada a abortamentos de repetição e menores taxas de implantação em Reprodução Assistida. É um diagnóstico delicado de conseguir, então converse com teu ginecologista e/ou infertileuta, ok?
O tratamento clássico envolve uso de antibióticos, sempre com a devida prescrição médica. Mas pensa comigo: se as microbiotas (oral, cutânea, intestinal, vaginal, uterina) todas conversam entre si, seria essencial o cuidado da microbiota intestinal para que se mantenha uma equilibrada microbiota uterina/endométrio? E isso começa pelo probiótico incrível de 20 cepas diferentes?
Não: começa pela alimentação! O básico bem feito:
- Frutas, legumes e verduras diariamente (especialmente sem agrotóxicos);
- Garantir uma boa digestão: se tens aquela sensação frequente de empachamento, arrotos, gases, distensão abdominal e/ou utilizas medicamentos da classe dos “prazóis” a longo prazo, já comece os cuidados por aqui;
- Bons níveis de reparadores de mucosa intestinal (complexo B, vitamina D e zinco estão entre os principais);
- Auto conhecimento: quais alimentos tu não digeres bem? Quais combinações te favorecem? Quais tuas alergias alimentares?
- Evitar o excesso de alimentos que, no Brasil, apresentam alto teor de micotoxinas, como a castanha do Brasil armazenada fora da casca, amendoim sem certificado da Pró-amendoim, trigo e derivados de trigo, milho e derivados de milho;
- Manejo do stress (esse é bem simples, não é? );
- Evitar conservantes e corantes;
- Evitar exposição diária à plásticos (plástico filme, garrafas, copos, embalagens).
E as mulheres com endometriose?
✴️ Bom, a mulher com endometriose, uma condição inflamatória dependente de estrogênio, comumente apresenta disbiose uterina. Estas mulheres possuem também uma alteração genética que favorece com que as células do endométrio sejam mais propensas às alterações epigenéticas – como a alimentação desequilibrada.
✴️ As mulheres com endometriose apresentam um maior quadro inflamatório, incluindo aqui uma maior síntese de prostaglandina E2 (PGE2). Isso ocorre, por exemplo, pela QUEDA DE PROGESTERONA, ou até mesmo resistência à progesterona, que estas mulheres apresentam (daí os tratamentos farmacológicos que envolvem uso de progestagênios, como drospirenona, diegnogeste e gestodeno). A progesterona diminui a atividade uma enzima denominada COX-2, e em situações de baixos níveis de progesterona, essa enzima fica ainda mais ativa, estimulando a produção da PGE2 e, por consequência, aumentando o sangramento uterino e podendo levar a alterações intestinais.
Em todo início de menstruação, ocorre esse aumento de PGE2 – por isso não é incomum que mulheres, mesmo sem endometriose, tenham alterações de motilidade intestinal no período pré-menstrual, como distensão abdominal e diarréia. Entretanto, nas mulheres com endometriose este aumento é maior e não está associado exclusivamente ao período pré-menstrual. Uma dieta com baixo teor de FODMAPs, que são carboidratos fermentáveis presentes em muitos alimentos, como brócolis, feijões, trigo, maçã, milho, etc) no período pré-menstrual pode ajudar bastante no alívio destes sintomas gastrointestinais.
✴️ Se pensarmos que, em disbiose, ocorre um aumento da produção de IL-17, temos um aumento da angiogênese (e um crescimento do tecido endometrial) e do processo inflamatório. Em disbiose, os produtos bacterianos desse intestino aumentam o número de macrógafos na cavidade peritoneal, agravando o quadro de endometriose. Em disbiose, temos um aumento da circulação de estrogênios – o tão estudado e já comentado aqui ESTROBOLOMA.
Estroboloma é justamente a carga genética das bactérias capazes de metabolizar estrogênio lá no nosso intestino, causando um “reaproveitamento” dos estrógenos secretados na bile pelo fígado – e isso, também, agrava a endometriose. Daí a importância de, também, a mulher com endometriose atentar à exposição aos xenoestrógenos – os mais comuns são bisfenol A e os agrotóxicos.
Falei falei falei e queria resumir tudo em uma frase: se as microbiotas conversam entre si, alimente-se com comida de verdade! Converse com teu ginecologista se suspeitas de endometriose. Se tiver, procure um nutricionista. O infertileuta acusou que endometrite foi a causa principal do não-sucesso da FIV? Procure um nutricionista pra te ajudar. O tratamento interdisciplinar é imprescindível
Dica de leitura:
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